Nos dias 8 e 9 deste mês, a OTM Editora promoveu o primeiro Fórum Transporte Sustentável. O evento trouxe para um debate online temas muito relevantes para quem lida com a gestão do transporte público.
Nós acompanhamos os dois dias de fórum e trouxemos alguns dos principais tópicos abordados pelos convidados, referências no setor.
ESG aplicado ao transporte
Um tema que tem ganhado muito destaque no meio corporativo é o ESG. A sigla em inglês para “environmental, social and governance” está relacionada a práticas de negócios que levam em consideração aspectos ambientais, sociais e de governança aliados aos fatores financeiros no processo de tomada de decisão.
ESG também pode ser entendida como uma premissa para a sustentabilidade nos negócios. Durante o fórum, o conceito foi abordado no contexto da mobilidade urbana, e algumas premissas citadas nos quatro painéis, que podem ser absorvidas pelos operadores de transporte são:
- a importância da adequação às necessidades dos usuários;
- necessidade de se ter uma visão de futuro nos negócios;
- implementação de iniciativas ecoeficientes;
- o valor das inovações sustentáveis.
Sem dúvida, o tema merece ser acompanhado de perto pelos próximos anos.
Mobilidade inteligente e sustentável
Neste painel, que consideramos um dos destaques para o nosso setor, Dimas Barreira, Presidente do Sindiônibus, Edmundo Pinheiro, Presidente da HP Transportes Coletivos e Pedro Palhares, Gerente geral do Moovit no Brasil, falaram sobre os desafios da implantação de uma Mobilidade como Serviço (MaaS) aqui no Brasil.
O debate foi mediado por Claudio Sena Frederico, Vice-presidente da ANTP, que iniciou a conversa dizendo que “o transporte coletivo é o sistema mais sustentável de mobilidade urbana”, para abordar a temática.
A inovação democratiza a tecnologia
Essa afirmação foi feita por Dimas Barreira para explicar que toda inovação tem um propósito. Para ele, a inovação serve para resolver um problema ou para dar acesso a soluções que até então não haviam sido disponibilizadas para todos. E isso tem tudo a ver com o transporte público.
Quando falamos da introdução de novos serviços no transporte público para a população, estamos avaliando formas de melhorar o acesso ao sistema. Nesse sentido, como Dimas também reforçou, “a tecnologia é uma parte importante, mas o modelo desenvolvido para implementá-la é fundamental”.
Dimas também citou a inovação que o Sindiônibus implementou em Fortaleza, com a integração entre o sistema de transporte convencional e o transporte público sob demanda.
Para ser sustentável, a mobilidade tem que atender a todos
Durante sua fala, Edmundo Pinheiro levantou a seguinte questão: “O que MaaS tem a ver com sustentabilidade?”. Para ele, muitas pessoas acreditam que sustentabilidade no transporte está vinculada apenas à questão ambiental (muito tem se falado nos veículos elétricos como solução), mas o tema é muito mais amplo e tem muito a ver com a ocupação dos espaços públicos e com a eficiência de custos dos sistemas de transporte.
Ele complementou dizendo que mobilidade para ser sustentável tem que atender a todos, e é por isso que ela é proporcionada pelos transportes públicos coletivos. “A MaaS é um instrumento de valorização do transporte coletivo”, enfatizou.
Nesse sentido, tanto para Dimas quanto para Edmundo, o transporte público convencional sempre será a espinha dorsal de qualquer solução de mobilidade, sendo a MaaS um possível suporte para a transformação na forma como ele está estruturado hoje. De qualquer forma, ela precisa ser customizada para cada realidade, entendendo as necessidades locais da população.
Aliado a isso, Pedro Palhares disse que oferecer meios para que a informação esteja na mão do passageiro é fundamental para que ele tenha uma percepção de qualidade do serviço de transporte público.
MaaS vai além da integração entre modais
Ainda falando sobre MaaS, Dimas enfatizou a importância de os sistemas de transporte terem veículos em diversas classes, para assim poder planejar a rede da forma mais eficiente possível, podendo, também, complementar com outros tipos de serviços, como é o caso de Fortaleza.
Edmundo disse que a MaaS tem sido vista apenas como a integração entre modais, mas ela vai muito além. “Eu vejo mais como uma mudança na forma como você entrega o serviço ao usuário, como uma plataforma que integra diversas soluções”.
Ele complementou explicando que a digitalização dos serviços de mobilidade é um passo importante para agregar o transporte público convencional a novas soluções públicas e privadas. Esses serviços estariam conectados por meio de uma rede diversificada, sendo o transporte público o coração desse sistema.
Novos modelos de contratação e entrega do serviço
Edmundo reforçou a necessidade de transformação no modelo de negócio atual do transporte público, que está “preso no modelo contratual em que a remuneração se dá exclusivamente na tarifa”. Para ele, é preciso pensar em políticas tarifárias flexíveis e olhar para uma adequação dos contratos de concessão.
Dimas ressaltou que, antes de tudo, “o modelo de contrato precisa ser bem-feito”, e que “a barreira é a garantia de equilíbrio dos contratos, que separa as questões políticas e técnicas”. Para ele, é fundamental distinguir o que é tarifa de uso e o que é tarifa de remuneração do serviço. Ou seja, são necessárias políticas públicas baseadas em tarifas sustentáveis.
Os outros painéis apresentados no fórum
Além do painel sobre MaaS, o evento contou com outros três muito direcionados para o transporte rodoviário e de cargas. Foram eles:
- Logística Eficiente e Sustentável: falando sobre a importância da eficiência na gestão de frota na busca pela redução de emissões de gases prejudiciais ao meio ambiente pelo transporte rodoviário de cargas;
- Negócios Sustentáveis: discutindo sobre como a sucessão familiar e a inovação das operações podem ser pilares da sustentabilidade em empresas de transporte;
- O papel do motorista no transporte seguro, eficiente e sustentável: mostrando cases de empresas que entendem a importância do motorista na redução dos acidentes nas estradas, do consumo de combustível e no impacto ao meio ambiente pelas empresas de transporte.